Da arte
e tecnologia
9—19 Maio '24
Braga

Pensamento

Imaginemos como pode uma cidade envolver e implicar os seus cidadãos no exercício da democracia, recorrendo à prática artística e fomentando a literacia digital e o modo como os media têm impacto nos nossos processos de sociabilização. Que futuros podem ser construídos com cidadãos informados e letrados em meios que são muitas vezes usados como sistemas de vigilância e de condicionamento comportamental, apropriando-nos destes e ativando a imaginação prática e política?

O programa de conferências da Bienal de Arte e Tecnologia INDEX 2024 instiga-nos a ativar a atenção e a imaginação, persistindo na possibilidade de criar modos de coexistência que nos permitam viver na liberdade que conserva o espaço de inventar mundos comuns. Mundos que ultrapassem modos de sobrevivência e de sujeição a antigos fantasmas, e nos afastem das já tão conhecidas políticas da inimizade e de exclusão dos outros, dos que diferem de nós, definindo simultaneamente barreiras criativas a modos de sociabilização que nos conduzem à sujeição e à mera sobrevivência. Referimo-nos aqui a uma comunidade mais do que humana, integrando num todo o sistema ecológico e tecnológico, cujas relações de reciprocidade comportamentais e energéticas, de vida, precisam de ser consideradas num contexto onde a separação entre natureza, cultura e tecnologia perde o seu sentido. Como, por exemplo, pensar as singularidades dos novos existentes dotados de inteligência artificial, tecendo relações sociais com os humanos?

Considerando os modos como as tecnologias atuais geram grandes disrupções no fazer político – com ingerências políticas em países terceiros, por exemplo, através da criação de fake news e deep fakes –, olharemos também para as possibilidades políticas que emergem, reconfigurando à luz de perspetivas transculturais, o nosso entendimento do que pode ser a tecnologia.

Discutiremos a relevante prática do whistleblowing como gesto de expor e denunciar irregularidades sociais, económicas e políticas, contribuindo para aumentar a consciência sobre estas. Falaremos acerca de como os sons das guerras, que insistem em nos assolar, se impregnam nos nossos corpos, marcando-os, desestruturando-os e silenciando-os. No cruzamento entre música e filosofia, juntaremos o imaginário colonial às perspetivas contemporâneas de exploração do Espaço, indagando sobre a presença de ecos do passado na forma como projetamos o futuro. Ensaiaremos ainda modos de coexistência que nos descentram do humano, acolhendo a convivência entre espécies, ampliando a noção de cidadania, incluindo nesta o ecossistema indígena-tecnológico da Floresta, convidando a entrar numa Coexistência Planetária entre tempos e imaginários plurais.

Liliana Coutinho

Curadora do Programa de Pensamento

Este programa tem o apoio da Comissão Europeia no âmbito do EU Digital Deal.