
Superfície
O Index é uma Bienal de Arte e Tecnologia, inserida no programa da cidade de Braga como Cidade Criativa da UNESCO para as Media Arts. Através do INDEX, propomos explorar práticas artísticas e pensamento crítico nos quais a tecnologia assume um papel central.
A edição de 2022 explora o conceito de Superfície. De elementos visuais a hápticos, limites ou interfaces, zonas de emergência ou extração, as Superfícies representam elementos fundamentais dos ecossistemas humanos e naturais, assim como constituem metáforas poderosas para as práticas artísticas relacionadas com a tecnologia, levantando questões que precisam de ser abordadas com urgência.
Através de um programa abrangente, com derivações expositivas, performativas, de pensamento e educação, o Index apresenta uma perspetiva particular sobre Arte e Tecnologia na Contemporaneidade, colocando a Superfície num patamar central.
Curators
Luís Fernandes
Co-curador Programa Expositivo
O que queremos exatamente dizer com relação entre Arte e Tecnologia? Qual a perspetiva sobre esta relação que defendemos como nossa e queremos trabalhar para difundir?
A contemporaneidade trouxe consigo um conjunto admirável de técnicas e dispositivos tecnológicos que reinventaram a nossa relação com os outros e com o mundo, alastrando-se inevitavelmente para o domínio da Arte, estabelecendo com esta uma relação problemática. O desequilíbrio entre proficiência tecnológica e relevância artística tem alimentado interpretações dúbias e gerado expectativas falaciosas na relação entre Arte e Tecnologia. Esta discrepância traduz-se, frequentemente, numa tendência para polarizar os dois conceitos e em considerar superficial o objeto artístico que se sustenta numa base tecnológica.
Foi precisamente a partir das ideias de superficialidade e de superfície que nos propusemos a pensar o programa do Index 2022, e nelas encontramos um conjunto de perspetivas interessantes. De elementos visuais a hápticos, limites ou interfaces, zonas de emergência ou extração, as superfícies representam elementos fundamentais dos ecossistemas humanos e naturais, assim como constituem metáforas poderosas para as práticas artísticas relacionadas com a tecnologia.
Paradoxalmente, a urgência da extração de minérios como o lítio, e consequente destruição dos respetivos ecossistemas naturais – tal como se afigura possível bem perto de nós, na região de Montalegre –, assenta na incessante proliferação de aparatos tecnológicos e na promessa do recurso a energia verde. O Index propõe uma discussão e reflexão sobre esta problemática, através das suas dimensões expositivas, performativas e de pensamento crítico.
Mas sugere também algo mais. A generalização da utilização de meios tecnológicos na prática artística tem levado a que algumas das obras que mais nos entusiasmam, e que aqui apresentamos, não se assumam como trabalhos inseridos no domínio da Arte e Tecnologia. Será este o prenúncio de que a utilização, cada vez mais natural e recorrente, de tecnologia avançada na prática artística ditará o fim desta segmentação disciplinar?

Luís Fernandes (Braga, 1981) é músico, artista sonoro e programador cultural. A sua atividade artística tem sido marcada pela multiplicidade de abordagens e formatos, repartindo-se por projetos coletivos, colaborações pontuais e trabalho individual; por atividade performativa, composicional e expositiva; e pelo estabelecimento de relações com diferentes campos disciplinares.
É elemento fundador da banda peixe : avião e membro do coletivo La La La Ressonance. Mantém, desde 2014, um prolífico duo com a pianista Joana Gama com o qual colaborou com Ricardo Jacinto, José Alberto Gomes, Drumming GP, Orquestra Metropolitana e a Orquestra de Guimarães. Adicionalmente, o seu percurso tem sido marcado por encontros com um alargado leque de artistas, incluindo Hans-Joachim Roedelius/Qluster, Black Bombaim, Rhys Chatham, Pierce Warnecke, André Gonçalves, Lloyd Cole, Rodrigo Leão, Sensible Soccers, Victor Hugo Pontes, Nuno M. Cardoso, João Pedro Rodrigues / João Rui Guerra da Mata ou Salomé Lamas.
Foi orador convidado na Berklee College of Music – Valencia, Elektra – Festival d’arts numériques – Montreal, Ars Electronica, MAAT, Off the page – The Wire, Fundação de Serralves, Universidade Católica Portuguesa e Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo.
É diretor artístico e fundador do Festival Semibreve, desde 2011, diretor artístico do gnration, em Braga, desde 2014 e diretor artístico do Index desde 2019. Fez parte da comissão de candidatura da cidade de Braga a Cidade Criativa da UNESCO para as Media Arts (2015-2017) e é atualmente Coordenador Artístico do plano de ação decorrente desse mesmo título. Integra o comité de curadores da rede ENCAC (European Network for Contemporary Audiovisual Creation), ICAS (International Cities for Advanced Sound) e EMAP (European Media Art Platform) ao lado de representantes de instituições como Ars Electronica (Linz), LABoral (Gijón), CDN Montpellier (Montpellier), Club Transmediale (Berlim) Unsound (Cracóvia), Barbican Centre (Londres) TodaysArt (Haia) e MUTEK (Montreal).
Comissariou trabalhos nos domínios do som, imagem e cruzamentos disciplinares a, entre outros, Phill Niblock, Mark Fell, Beatriz Ferreyra, Ryoichi Kurokawa, Tarik Barri, Hans-Joachim Roedelius, Jim O’Rourke, Joanie Lemercier, Keith Fullerton Whitman, Sarah Davachi, Salomé Lamas, AGF e Zimoun.
Liliana Coutinho
Uma superfície como uma membrana, porosa, vibrátil, móvel, espaço de contacto permeável e maleável, de transição entre diferentes zonas, revelador de relações, de diferentes modos de existência e de perceção: foi esta a compreensão de superfície que pautou o desenho do percurso que fazemos neste programa de conferências e conversas. Superfícies onde se cruzam imaginários, poéticas, proposições estéticas com a tecnologia, mas também com um contexto específico que tem tanto de local como nos leva ao encontro de problemas com uma dimensão histórica e planetária, que são os implicados nos atuais planos de extração de lítio no norte de Portugal, um mineral fundamental para a transição tecnológica considerada indispensável para enfrentar o atual contexto das alterações climáticas. Nesta conjuntura, apelamos a que se considere que, para além de tecnologias, precisamos urgentemente de reativar a nossa capacidade em imaginar em conjunto.
Para o fazer, passaremos por encontros que nos convidam a refletir acerca da responsabilidade da nossa imaginação, quando desenhamos tecnologias e trazemos ao mundo objetos que, mesmo quando surgem com uma função específica, nos exprimem na nossa relação com os outros, tanto com os humanos e com o que não é do humano, mas do planeta, contribuindo assim para um certo estado do mundo. Escutaremos a forma como artistas que participam no Index 2022 trazem a questão da superfície para os seus trabalhos, como se relacionam com questões de ordem estética, mas também geopolítica, económica e filosófica, implicadas nos seus projetos e nas condições de produção dos seus percursos. Encontraremos movimentos sociais e ambientais e cientistas políticos. A engenharia de computação e a inteligência artificial encontrar-se-á com a estética. A filosofia surgirá várias vezes, convidando-nos amplificar a nossa compreensão da noção de superfície, mas também a imaginar de outra forma, a conceber um mundo onde não seja mais indispensável perfurar, extrair, “ir ao fundo”, para fazer emergir as energias das quais necessitamos para viver. Consideraremos as potências inexploradas da superfície, viraremos do avesso representações acerca da estabilidade dos lugares onde vivemos, e apelamos também à magia, não contra a realidade, mas como forma de preservar a sua possibilidade, de lhe restituir o movimento e, a nós, a capacidade de contribuirmos para a tecelagem de mundos possíveis de habitar.

Liliana Coutinho (Lisboa, 1977) é curadora e programadora de Debates e Conferências da Culturgest, em Lisboa. Doutora em Estética e Ciências da Arte pela Univ. Paris 1, é investigadora do I.H.C. – FCSH/UNL. Escreve com regularidade, tendo coeditado o livro Paisagens Imprevistas (2020), dedicado ao 10º aniversário do Festival Materiais Diversos. Publicou, entre outros, “O delicado fio do comum”, em André Guedes, Ensaios para uma antológica, Kunsthalle Lissabon e Cura Books, 2016; “L’objet: ni un fétiche ni une preuve, mais un don pour la performance”, in Performance Vie d’Archive, Les presses du réel, 2014; “O Coro, outra vez”, in Anne Teresa de Keersmaeker em Lisboa, INCM, 2013; “On the utility of a universal’s fiction”, in Gimme Shelter: Global Discourses In Aesthetics. Amsterdam University Press, 2013; «Hearing our pathway – A Sensous Walk», em Mobility and Fantasy in Visual Culture, London: Routledge, 2013. Foi responsável pelo Serviço Educativo do Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Como investigadora e curadora, colaborou com o Teatro Municipal Maria Matos, CAM – Fundação Calouste Gulbenkian, M.A.C. Serralves, Le Plateau (Paris), Artistas Unidos e Atelier Re.Al. É Professora convidada na Pós-Graduação em Curadoria de Arte, da FCSH/UNL.
Mariana Pestana
A superfície da terra é um espaço liminar contestado. Não apenas na região do Minho, onde a prospecção de lítio tem gerado controvérsia, mas acima de toda a superfície terrestre, retalham-se zonas naturais em propriedades várias, independentemente do estado líquido, arenoso, verdejante ou árido da matéria que a cobre. A potencial extração dos recursos que existem por baixo dessas zonas justifica gestos de perfuração, rompimento e explosão da superfície de modo a aceder ao seu anterior.
O mar, a terra, as pedras e mesmo o ar, que idealmente seriam bens partilhados por toda a humanidade, são efetivamente balizados em conceções jurídicas e proprietárias. Estas conceções materializam-se em contratos de posse, licenças de exploração, estratégias de gestão de territórios de cariz governamental ou privado. Expropriam-se as matérias de qualquer agência ou direitos, de relações de solidariedade entre partes. E alteram-se modos de vida, condições laborais, equilíbrios ecológicos de quem vive ou trabalha naqueles territórios. A superfície é, acima de tudo, uma fronteira geopolítica entre concepções diversas de desenvolvimento.
Com base no pensamento do filósofo Michael Marder, que nos convida a desenvolver um conhecimento superficial (sensível, solar) como alternativa ao conhecimento profundo (racional, nuclear) que domina o pensamento ocidental, esta série de projetos põe em questão a riqueza ontológica e mineral da exploração em profundidade, e propõe outras visões de desenvolvimento através da investigação superficial e sensível. Expõe superfícies liminares, fronteiras especulativas e matérias politizadas– madeira, cobre, lítio, água, diamantes, platina e dados. Oferece perspetivas acerca do modo como nos podemos relacionar com a matéria no futuro, já não enquanto recurso desprovido de subjetividade, mas antes enquanto aliada fundamental num novo paradigma ecológico mais-que-humano.

Mariana Pestana (1982) vive e trabalha em Lisboa. É arquitecta, curadora e investigadora no campo da arquitectura e design contemporâneos. Cria programas culturais como exposições, eventos, instalações e publicações. É Doutorada em Arquitectura pela Bartlett School of Architecture (2019), fez Mestrado em Narrative Environments da Central Saint Martins, UAL (2010) como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, e é formada em Arquitectura pela FAUP, Universidade do Porto (2006).
É co-fundadora e directora dos The Decorators, um estúdio interdisciplinar que concebe objectos, workshops, eventos e edifícios através de processos colaborativos que investigam noções de lugar, comunidade e comensalidade. Foi curadora geral da 5a Bienal de Design de Istanbul (2020-21) Empathy Revisited: designs for more than one, que comissariou intervenções no espaço público, instalações, projectos de investigação e uma série de filmes sobre solidariedade interpessoal e interespécies. Anteriormente, foi curadora do programa Fiction Practice, uma série de workshops e publicação (Onomatopee, 2020) para a Porto Design Biennial. Entre 2015 e 2019 trabalhou como curadora no Departamento de Arquitectura, Design e Digital no Victoria and Albert Museum onde foi co-curadora das exposições The Future Starts Here (Victoria and Albert Museum, 2018) e This Time Tomorrow (Davos, 2016). Deu aulas na Central Saint Martins e Chelsea College of Arts entre outras universidades, e atualmente é Professora Assistente Convidada no Instituto Superior Técnico em Lisboa.
Info
Locais, Bilhetes, Horários, Contactos

Theatro Circo
Av. da Liberdade, 697, 4710-251 Braga
253 203 800
www.theatrocirco.com
Segunda a Sábado: 14:30-18:30
Aberto domingos 15 e 22 de Maio: 14:00-17:00
gnration
Praça Conde de Agrolongo, 123, 4700-312 Braga
253 142 200
www.gnration.pt
Segunda a Sexta: 09:30‐18:30
Sábado: 10:00‐13:00, 14:00‐18:30
Aberto domingos 15 e 22 de Maio: 14:00-17:00
Mosteiro de Tibães
Rua do Mosteiro, 59, 4700-565 Mire de Tibães, Braga
253 622 670
www.mosteirodetibaes.gov.pt
Terça a Domingo: 10:00-19:00
15, 21 e 22 de Maio com entrada gratuita
Museu Nogueira da Silva
Avenida Central, 61, 4710-228 Braga
253 601 275
www.mns.uminho.pt
Terça a Sexta: 10:00-12:30, 14:00-18:30
Sábado: 14:00-18:30
Museu dos Biscainhos
Rua dos Biscainhos, 4700-415 Braga
253 204 650
www.museudosbiscainhos.gov.pt
Terça a Domingo: 10:00-12:30, 14:00-17:30
Salão Medieval Reitoria da Universidade do Minho
Largo do Paço, 4704-553 Braga
253 601 100
www.uminho.pt
Segunda a Sexta: 10:00-18:00
Aberto dias 14, 15, 21 e 22 de Maio: 14:00-17:00
Exposições
Pensamento
Performance
Piece Warnecke + Matthew Biederman + Supernova Ensemble
Dust Devices & berru
Bilhetes para todas as performances
25 euros
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